LOST IN INNOCENCE
Written has Freud
Ter a proporção das questões é fundamental. Norma geral as pessoas não conseguem ter a proporção das relações. Só com rupturas é que conseguem chegar lá, só com grandes perdas é que de repente se lembram do que “era bem”, do momento em que “eram felizes”, da altura em que tudo parecia fazer mais sentido. E normalmente não se apercebem dos problemas que iam provocar com o seu comportamento. Há sempre o “não fiz por mal”, está lá sempre o “eu sou assim, que hei-de fazer”. Ao longo da relação está lá sempre o “que é que queres que te diga” associado ao seu irmão “que é que queres que te faça”. O terapeuta faz o possível pra conseguir dar ás pessoas uma certa medida das suas acções… um ajusta medida de todas essas coisas que para ele são consequenciais mas que para as pessoas simplesmente não conseguem ser, são misteriosas, acontecem sem razão aparente e de facto algumas pessoas ficam verdadeiramente surpreendidas com o alcance das suas acções. Sendo a inocência algo de primordial “o tempo do antes do acontecimento transformador” como dizia Thomsom, pode a inocência ser algo de propositado? Recentemente, no Canadá, assisti a esta discussão entre dois profissionais em que ambos pretendiam provar que a inocência era de alguma forma incompatível com a psicoterapia. Alguém inocente estaria livre dos constrangimentos de culpa, e não se pode emendar uma pessoa de um comportamento que ela não sabe sequer ainda classificar como nocivo. Mas comecei a pensar: não deveríamos nós começar precisamente por ensinar a pessoa a sentir culpa? É que muitas vezes, como mais tarde disse no congresso, as pessoas de facto não têm conhecimento do que fazem, mas têm a sensação do que podem ou não fazer, têm a noção da sua existência, têm a noção da sua presença. Sendo assim, é evidente que se consegue chegar a um compromisso com a pessoa tendo em vista que ela se relacione com as suas culpas sem que isso seja de facto nocivo pró processo terapêutico directo (sendo que o processo terapêutico indirecto tem de ser a própria pessoa a fazê-lo. Sendo que as pessoas procuram constantemente a felicidade, mesmo de forma inconsciente, mesmo de forma negativa, procurando chegar a pontos mais profundos de insatisfação, o fim da inocência sobre as acções das pessoas parece uma questão fundamental do auto-reconhecimento que a pessoa terá de fazer de si própria. Vejam bem, não pretendo que as pessoas se mascarem de juízes em causa própria, sabemos que isso vai sempre dar à insegurança, e não é nosso papel fazer com que as pessoas cedam emocionalmente ás dúvidas que as assaltam. Não podemos ter o papel passivo de quem não sabe onde a história vai acabar. Aliás, parece me impossível imaginar um mundo em que os terapeutas sejam apenas os escutantes que no comboio atendem ao desabafo ocasional de alguém…à tentativa de que a pessoa se tenta livrar de si mesma.
Mas voltemos ao tema inicial, a forma como as pessoas fazem a sua vida parecer um filme do qual estão ausentes, e isto através da inocência presumida que as faz sentir como ininputáveis nas próprias tramas em que se envolvem.
Aquilo que nos liga aos outros é a empatia. Empatia é a capacidade de nos associarmos emocionalmente, além da utilidade, em relação a pessoas. Empatia é um sentimento mútuo, mais forte que o amor, mas muito mais temporário. A empatia é o estado de esforço por perceber alguém e que acontece naturalmente ou por treino da pessoa que inicia o fluxo. Alguém que se revela constantemente inocente dos acontecimentos da sua vida é alguém que nos faz pensar que realmente existe uma potencial falta de empatia relativamente à outra pessoa, aliás, parace que existe uma falta de emotividade em relação à sua vida em geral. Senão vejamos.
Para não sentir é preciso não ter curiosidade em manter contacto. A falta de contacto é que despoleta normalmente a falta de carinho. A falta de carinho é que normalmente conduz à falta de interesse em conhecer as outras pessoas. Assim, a falta de empatia, sendo entendida como uma fragilidade das emoções latente, algo que não consolida as emoções sentidas pelas pessoas com quem se está emocionalmente ligado, é claramente uma falha na relação. Atenção, muitos factores podem contribuir para isto, estes meus pequenos posts são demasiado genéricos para que os dissequemos. a falta de empatia numa relação é como uma espécie de obrigação que temos todos para com o Outro, para quem a outra pessoa, para a outra parte de nós, que nunca chega a ser parte nós porque nunca nos podemos fundir a essa outra pessoa, e ás vezes a própria constatação disso, principalmente naqueles casais fusionistas que praticamente não se largam nunca, de que não se pode alcançar a totalidade, é suficiente para o desinvestimento nas emoções, não querendo dizer com isto que a falta de empatia chegue aos níveis patológicos que podem ser utilizados numa terapia como ponto de partida.
Falei de empatia, agora permitam-me falar de atracção. A atracção é a tendência para alguém num plano favorável, numa perspectiva construtiva de afectos. As pessoas sentem-se atraídas por outras pessoas por uma mistura ainda pouco conhecida de características físicas e mentais. Mas há algo muito importante no início de uma relação, e isso é o Status Quo emocional daquelas duas pessoas num determinado momento. Esse factor seminal é fundamental para compreendermos que as pessoas começam as relações condicionadas por determinados factores, e são esses factores que determinam a intensidade da relação em termos gerais.
Claro que podemos afirmar que a relação é uma construção, que os elementos preliminares, fundidos e amalgamados em dias e dias, acabam por mudar eles próprios de natureza, e muitos terapeutas, ao estudar a inocência dos indivíduos, passam por cima destas questões do que começou como começou, começou por expectativas positivas e agora está por algum motivo negativizado e essas pessoas estão mesmo dispostas a acabar a relação que mantinham.
É preciso perceber o que é que, ao ser sintetizado na relação, passou a funcionar como uma barreira em vez de uma ponte. Será um desejo secreto, será uma antiga relação, será uma insegurança que surge sempre que se vai um pouco mais longe na afectividade com as pessoas?
E isto é fundamental nos casos em que falhou a empatia. Saber se o elemento já estava presente ou se resulta de uma situação dentro da própria relação é fundamental porque nos leva para uma compreensão menos vaga do casal, mais objectiva de m historial das emoções, e assim perceber como se chegou onde se chegou. É muito fácil fazer inventários de destroços, mas normalmente o problema é reconstruir o acidente, principalmente quando, como nos casos dos inocentes, as pessoas estavam a olhar pró lado ; )
<< Home