Desconvites da vida: quando o Passado sexual dela é motivo para ciúmes Presentes Nele ; ) e o terapeuta que já não podia ir ao casamento
Written has Freud
Fui desconvidado para um casamento na véspera do dito. A Daniela e o Rodrigo vão-me desculpar por aproveitar assim tão descaradamente o pequeno incidente que se deu na boda deles, mas não resisto a puxar desta história para este blogue, que como sabem é tão pouco lido que só muito infelizmente irá parar aos ouvidos de alguém remotamente ligado a ela ; ))))))))
A história é simples e conta-se sem grande complexidade. Estava eu convidado para o casamento de uma amiga minha quando os noivos, 15 dias antes, em conversa mais ou menos confessionária, se puseram a falar da sua vida sexual passada. A Daniela disse que tinha tido 13 parceiros antes do Rodrigo, o Rodrigo tinha tido 8 parceiras antes da Daniela, e mais algumas loucuras (sem consequência e portanto que não contavam para a história oficial). De referir que esta conversinha de alcova foi iniciada por ele, em tom de inocente brincadeira e desafio liberal de casal que não quer ficar agarrado aos tabus do passado, um rapaz renascentista portanto. E tão inocente foi a conversa que o menino logo se pôs rijo e com a potência hercúlea que é reconhecida aos homens portugueses logo tratou de dar mais uma daquelas noites inesquecíveis de prazer à menina, prenúncio de muitas mais que se seguiriam após a boda.
No dia seguinte, estava eu almoçando com a dita noiva e ela contou-me esta conversa tida entre lençóis e pouco antes dos orgasmos da praxe. Fiquei abismado, e disse-lhe isso. Homem português que ouça falar de actividade sexual passada da parceira sem ciúmes automáticos, discussão de enfiada e ameaça de fim da relação é coisa que nunca tinha ouvido, e disse-lho. A resposta dela foi intranquilizadora: “não falámos de pormenores”. Pois, não tinham falado de pormenores. O Rodriguinho, rapaz jovial, excelente advogado e bom amante, sabia que os genitais da namorada tinham sido partilhados com mais 13 homens, mas isso não o tinha preocupado, ele estava perfeitamente na boa com isso, até tinha logo a seguir desempenhado um papel sexual acima da média segundo a história do casal. Pois… mas não tinham falado nos pormenores, especialmente de um certo factor qualidade que os homens tanto apreciam verem adulados pelas parceiras presentes face aos parceiros passados. Ainda tive coragem de perguntar à Daniela, antes da despedida desse adorável (como sempre) almoço no Kuxixo, se tinham falado da qualidade desses 13 trabalhadores passados, e a resposta dela foi que só tinham discutido o nro. Em jeito de profilaxia verbal, disse-lhe para em caso de novo questionário, desta feita relativo à qualidade, ela respondesse que o Rodriguinho era o melhor, que acima dele só Sean Michaels (usem o Google) e abaixo dele todos os outros. Ela ficou atónita com a minha proposta, e não disse nada.
Agora vamos avançar uns dias, para depois voltar a recuar (este texto está cheio de flashbacks, parece o Memento). sexta-feira de manhã, Pedrinho a dar braçadas na piscina depois de ter passeado os cães e muito depois de ter possuído pela enésima vez a Beliza na sauna (minha filha, estamos a ficar fetichistas, temos de ter cuidado senão daqui a uns tempos, até sexo em grupo enjoa ; )))))) ). O telefone toca, e como o telefone é à prova de água, Pedrinho atende, apesar de o número não me dizer nada (não atendo anónimos mas desconhecidos podem sempre ser conhecidos como seu telefone sem bateria usando o de outrem, mas pelo sim pelo não mal atendo inicio logo a gravação da conversa, se for algum engraçadinho com insultos toca a metê-lo em tribunal)
- Estou sim?
- Tou, é o Pedro?
- Sim, quem fala?
- Pedro, daqui é o Rodrigo, precisava de te pedir uma coisa.
- Se eu puder ajudar, diz… (digo isto com alguma estranheza, namorado de amiga minha que goste de mim é espécie à espera de ser descoberta, mas pronto, estamos em vésperas de casamento)
- Será que podes faltar ao nosso casamento?
- Está bem, não há problema Rodrigo.
- Mas não queres saber porquê?
- Eu sei porquê Rodrigo, adeus.
Chamada desligada, chamada efectuada, Daniela a atender no trabalho, apressada como sempre a despachar-me, tudo o que não sejam problemas dela não são urgentes.
- O Rodrigo ligou-me a pedir para não ir ao vosso casamento. Eu não te disse para lhe dizeres que ele tinha sido o melhor de todos?
- Ele ligou-te? Como é que ele arranjou o teu número?
- Tipo, se calhar no teu telemóvel!?!?!?!?!?!?!?
- Não acredito que ele te tenha pedido isso.
- Liga-lhe a perguntar, mas em todo o caso tenho a conversa gravada.
- Meu Deus, Pedro, desculpa. Eu vou falar com ele e perguntar-lhe o que se passa…
Chamada desligada, novo mergulho, o Igor salta para a piscina, não há nada mais mortal para filtros de piscinas do que um Alaskan Malamute Bear em época de muda de pêlo, e Hans e Hegel acompanham-no quase a seguir, só estavam à espera da traquinice do líder para darem liberdade aos seus próprios devaneios. O telefone volta a tocar.
- Pedro, o Rodrigo diz que não te ligou a dizer nada, tens a gravação da chamada?
- Sim, quando é que a queres ouvir?
- Eu vou a tua casa depois de almoçar.
- Anda aqui almoçar se quiseres.
- Está bem.
A Daniela chegou com olhar amedrontado, o carro ficou na rua, forma de impessoalidade de quem acha que o melhor amigo lhe está a contar uma mentira, ou que quer acreditar que o melhor amigo lhe está a contar uma mentira em vez da outra hipótese: a hipótese de que o namoradinho foi ao telefone sem dizer nada, e sem dizer nada ligou para um amigo dela que não é amigo dele para o desconvidar quando foi ela que o convidou. Ou seja, ao fim de dois anos de namoro e nas véspera do casamento, a Daniela descobre que o namorado é capaz de coisas que ela nunca o imaginou capaz de fazer, capaz de passar por cima dela sobre uma decisão importante da vida deles, e ela está insegura. Aqui o amigo tem tudo pronto, o telemóvel em lugar de destaque, o almoço pronto, e mostra-lhe tudo mal ela chega, por motivos egoístas admito: quanto mais cedo ela ouvir a conversa, mais depressa perde o apetite, e mais salada Waldorf sobra para mim ; ))))))))))))
Pede-me desculpa depois de ouvir, e conta-me o que se passou no dia do nosso último almoço, ou na noite a seguir. Novamente na cama, depois do “Mostra e Conta”, o menino Rodrigo tem um novo jogo que se chama o “Conta e Classifica”. Respondido que está o “com quantos”, o Rodrigo quer saber “com quantos foi melhor do que comigo?”. Já não se trata de o Rodrigo querer saber a ordem cronológica, isso já está esclarecido. Agora o Rodrigo quer o Ranking, as classificações, quem está no pódio, quem está no top 10. E claro, quer um motivo para essa diferenciação, afinal o Rodrigo quer melhorar, não lhe basta ser o último por acidente da história da Daniela, e portanto ela que lhe diga o que fizeram outros melhores que ele jura desde já tudo fazer para lá chegar. E a Daniela lá lhe faz a vontade, diz-lhe que 4 foram claramente melhores do que o Rodrigo, sempre atenciosos com os ritmos dela, procurando que ela se mantivesse sempre em estado de grande excitação, que nunca paravam o acto sexual após o primeiro orgasmo dela, que faziam as trocas do vaginal para o anal de forma a que não lhe doesse. Desses 4, 3 já foram há uns anitos, só um se mantém em contacto com a Daniela. E quem é esse menino bem-comportado e carinhoso que merece o lugar no pódio à frente do Rodrigo? Alguém tem ideias? EU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O tal amigo dela que ele pensa que é gay, de tão rodeado de mulheres e interessado que é nas “conversas delas”. Pois, eu não sou gay Rodrigo, lamento imenso, mas é a vida, se um doa for vais ser a primeira pessoa a quem vou ligar ; ))))))))))))))))
Mas o Rodrigo não fica triste, nem irritado, até reage bem, graceja e diz que “tenho de lhe pedir umas dicas”, como se alguma vez um português tivesse coragem de pedir um conselho sexual a outro homem, isso seria admitir que não se está a dar conta do recado e seria abrir a porta para que o outro pusesse os olhos na nossa querida. A Daniela fica ainda mais satisfeita, pela primeira vez na vida ficou satisfeita, afinal o Pedro não é omnipotente, e essa coisa de ele ver o futuro só mesmo por acaso é que ele acerta. Pois… e agora… cá está… o Rodriguinho afinal ficou de rastos, afinal lá por dentro ficou todo partido, e ela nem reparou. Mulher que não repara numa coisa destas não repara sequer na orientação sexual do namorado ; ))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
Não fui ao casamento, por mais que ela me dissesse para ir. Ainda acho que as relações são mais fortes do que a amizade, porque as relações estão num grau superior de vontade e exclusividade, por piores que sejam as pessoas estão metidas dentro delas porque querem e ponto final.
O casamento foi tão curto que deu para ser dissolvido pela Santa Mãe Igreja (apesar de perfeitamente consumado, diga-se) portanto não vou perder mais tempo com ele. Mas fica aqui a base para a minha próxima reflexão: a diferença por vezes abissal entre o que dizemos e o que pensámos e a forma como muitas vezes essa assimetria não é notada nem por aqueles que nos estão mais próximos. Terão de esperar uns dias ; ))))
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