quinta-feira, maio 20, 2004

HIV tb é uma forma de dizer ROLETA

Written as FREUD

Sou adepto da coerência, e fundamentalmente sou adepto da coerência terapêutica. Custa-me aceitar que um terapeuta passivo em relação aos seus pacientes consiga levar todos os porquês a bom porto, que é como dizer, todas as ideias à clarificação e todos os antagonismos ao descanso. E há sempre a complexidade amargurada de uma mente ferida, que se arrasta pela sala de forma quase solitária, n fosse a nossa preserverança. Hoje aconteceu-me isso com uma jovem homossexual infectado com o HIV. A forma negativista como ele olha prá sua posição de infectado em nada me afecta, pois a sua positividade resulta de comportamentos claros de risco. E ele próprio diz que " n se importa nada de infectar outros". Ora isto choca-me pois tantas vezes a vítima torna-se no pior agressor, e esta questão do HIV anda um pouco a reboque desse dilema mais abangente. São poucos os homossexuais afectados que realmente actuam profilacticamente em relação À sua maleita, procurando muitas vezes " transmitir" essa positividade como uma benção homogeneizadora pra todos os afectados futuros. A identificação parece muitas vezes mais forte que o desejo de viver. N quero com isto salientar negativamente o resultado de anos e anos de tentativa de exposição e outing da comunidade homossexual. Quero apenas salientar que o sofrimento n é bandeira própria e exclusiva de ninguém, conheço pessoas q bloqueiam completamente com a luz branca e tÊm e andar com óculos o dia todo, mesmo que esteja nublado. Os nossos próprios demónios são sempre mais prementes que as nossas próprias acerções e isso desenrola-se na cabeça deste paciente. Ele sabe que está num estado especial, e portanto, em vez de tentar voltar À normalidade, transfigura-se num super-herói em que a própria doença é factor de elevação e notoriedade. E a não revelação do seu estado a parceiros é a jogatização dessa vivÊncia tragi-cómica. Na aposta da infecção o paciente consegue reassumir toda a aleatoriedade que regia a sua vida anterior ao reconhecimento da doença, e neste retorno à possibilidade nova, neste retorno à nuance do destino ele julga que conseguiu expoliar a força que a doença tem sobre si. Claro q esta falsidade leva-o a desprezar cada vez mais o próximo, cada vez mais arquétipo do próprio inimigo em vez de simples companheiro deste novo destino relançado. Espero q um dias todos nós descubrámos que a cura pra tudo o que se passa na nossa mente está dentro da caixinha de surpresas que é a nossa incoerÊncia...