segunda-feira, julho 12, 2004

O Teenager, a maçã envenenada, o relógio, o seu tic tac e as pastilhas pró hálito do mesmo nome: Inutilidade do terapeuta face ao adolescente rebelde

Written as FREUD


Falo pouco de adolescentes nas minhas meditações... não que não tenha que dizer... mas porque se calhar como qualquer adulto ( e ainda pior, como adulto jovem) não acho os seus problemas tão importantes assim. Uma jovem que está nervosíssima por estar com o namorado, que se acha sem graça quando é imensamente espirituosa e atrante, um rapaz que é violento com os colegas como forma de se proteger das agressões que eles pudessem ter, coisas assim.
Além disso... pelos mails e comments que tenho recibido, a grande maioria das pessoas que lêm os posts que me pertencem neste blogue têm entre 25 e 40 anos, portanto já têm idade pra ter juízo : )
Mas de facto os adolescentes estão em alta nos consultório um pouco por todo o país. Um pouco como no Post “ Revolta dos McPacientes inertes...”, chegam calados e sentem-se perfeitamente à vontade se sairem mudos do consultório. Os métodos de provocação de palavras têm de ser cuidadosos, pois o adolescentes pode perfeitamente explodir pra fora da sessão queixando-se ao pais da suposta abordagem menos correcta do terapeuta, e isso era tramadito pra nós, presos entre a necessidade de ajudar, a provocação pra iniciar a terapia e a distorção do contéudo. Isto já pra não falar dos pais que tentam por todos os meios sacarem-nos informação relativamente ás sessões dos filhos, quando não nos sugerem mesmo que gravemos as sessões pra lhes entregarmos as cassetes. Regra geral ( e particular já agora), sou contra terapia psicanalítica em adolescentes. A forma profundamente reflexiva deste tipo de abordagem pode fazer com que o adolescente, numa atitude de auto-culpabilização, descambe em atitude ainda mais sofredoras em relação ao mundo, em particular o mundo dos pais, um mundo onde ele se sente mal, desconfortável, e claro, eles estão-me a pagar um terapeuta porque se sentem culpados, e eu vou-lhes sacar aquelas calças, ai vou vou...
Não nos iludámos: os adolescentes que fazem terapia continuada são filhos das classes A e AB, vivem numa grande disponibilidade de meios e actividades, e normalmente são aquelas crianças que respondem à pergunta “ O que é que queres no –Natal” com um lacónico, sardónico e salomónico “Não quero nada” pois são jovens com elevados índices de satisfação material, criatividade, concentração, inteligÊncia natural ou estimulada e dividem-se em relação aos pais em duas enormes categorias: afiliados e desafiliados. Ou têm fortes laços com os pais ou não os têm. Em relação aos pais nesta fase não há meio-termo. Ou são um braço amigo ou uns cotas sem graça, ou são um apoio prós momentos maus ou o obstáculo mais obstinado ao adolescente alcançar a felicidade plena. Estes grande grupos definem também o tipo de problemas com o mundo, pois nesta rivalidade/aceitação dos pais joga-se o tempo que sobra pra arranjar problemas com o mundo. Outra coisa que os adolescentes detestam muito mais que todos os outros pacientes é a ideia de “norma”. Enquanto que grande parte dos pacientes se sente feliz por fazer parte de uma qualquer média, por isso enquadrar também uma terapia precisa, os adolescentes detestam ser catalogados, as suas fobias e medos enquadrados, porque isso determina que a solução vai ser geral, e se vai geral não vai ser pra eles e isto é simples como água, uma confrontação pura e certeira e sobre a qual o terapeuta não tem razão. Ainda dentro dos tais grupos que os adolescentes detestam ser enquadrados, há dois tipos idênticos. Os que são hostis e os que são docéis. Isto não tem nada a ver com o resultado da terapia, tem apenas a ver com a atitude inicial, a forma como respondem, que normalmente se traduz na forma ou igual ao que fazem com o resto do mundo, ou, porque a ideia é “não deixar o gajo conhecer mesmo o que que penso” totalmente oposta ao seu raciocínio do dia a dia.
O grande problema deste tipo de terapia é que, enquanto que um adulto estar sentado na nossa mesa já é pelo menos assumir que qualquer coisa está mal, o adolescente normalmente diz que qualquer coisa está mal COM OS PAIS, não com ele! Ele é vítima de uma aprisionamento abusivo, de uma coerção a chegar ali, sentar-se com uma pessoa que mal conhece e revelar tudo o que está no seu diário e que não foi confessado a mais ninguém. E isto só porque os pais ESTÃO A PAGAR. “Então o tipo que me faça soar, que mostre que sabe ler a mente, que me apanhe em falso, mas que seja simpático, senão eu digo aos meus pais que não vou mais e pronto! Acaba-se com isto! Deixem-me em paz!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”

Outro problema cada vez mais corrente ( e que resulta tanto da minha juventude como do meu sucesso) é ter mais e mais pacientes que já passaram por 2 ou 3 três terapeutas. Ora isto é pior, porque já há uma vulgarização do que se vai para ali fazer. “Eu já falei disto com os outros todos, mas a minha mãe diz-me que me faz bem e até me porto melhor e tal e pronto”. Pelo sucesso dos meus colegas eu diria que o acontece em Portugal é que os meus colegas não têm mais sucesso do que alguém que se cruze num autocarro com os pacientes e fale com eles. É a ideia-base de descarregar, descarregar pra não rebentar, mas sem fazer nada quanto À avaria do mecanismo de abastecimento da cisterna. Daí que eu não veja no quadro traçado pelos meus 3 colegas anteriores melhorias sistemáticas. E isto ainda é mais problemático se pensarmos que não existe em Portugal uma cultura de responsabilização dos terapeutas por resultados obtidos. Regra geral a desculpa do terapeuta é de que “foi muito difícil”. Mas isso é desculpa pra alguém? Isso explica alguma coisa? Isso é palavra que justifique as pequenas fortunas que cobrámos? Não me parece...

E pronto Marta, abordei os adolescentes, estás contentinha? Jokinhas Fofa e agora quero-te ver a falares de terapeutas no teu blogue!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Um abraço pra todos e boa entrada em depressão agora que o EURO acabou ; )