sábado, setembro 17, 2005

Puxão de Orelhas II

Written has Freud


A última mensagem era clara em relação ao meu pessimismo em relação ao comportamento sexual dos homens no leito, quando esse desempenho é (eufemismo caridoso) inferior ao esperado. Mas ficou prometida nova arremetida, desta vez contra outra classe, esta multi-sexual: os ginecologistas. Então vai-se atacar assim quase-colegas? Pois, vai-se… já ataquei aqui a minha própria classe, era só uma questão de tempo até fazer razia nos quase-colegas de profissão : )))
Um ginecologista vai fazer um exame pélvico a uma paciente e a vagina desta contrai-se violentamente, não permitindo que o exame decorra em condições normais. A paciente diz-se à vontade com o profissional e não tem explicação para a contracção. Reacção do ginecologista: está tudo bem. Depois essa paciente vai para casa, ter sexo com o companheiro. Acontece-lhe o mesmo em versão peniana, o companheiro desiste a meio do acto por entre o choro dela ou apressa-se a acabar e vira-lhe as costas, sinal de macho latino ofendido por mulher que lhe nega o supremo prazer de uns grunhidos e arfares mesmo que inventados. Agora digam-me, vocês que tão sempre a dizer-me que eu nunca tomo o partido das mulheres, sacando-lhes a massa e ainda por cima colocando-lhes as culpas todas do mundo: acham que o “está tudo bem” do ginecologista vai adiantar alguma coisa face a tamanho fiasco de correspondência básica sexual?
Já vos imagino a pensar (atrevimento supremo antiético, até imagino o que vocês pensam) “o que tu queres é que os ginecologistas te mandem as pacientes para as “tratares”” : )))))
Não, o vaginismo não é instantâneo, resulta de um progresso feito de pequenos passos na direcção do pânico que acabam por se tornar um automatismo redundante. Ou seja, para evitar mais um pouco de dor, antecipando toda a sequência que iria levar À agonia suprema da violação, a vagina comprime-se totalmente. Lá está, para pequenos males, grandes remédios.
Assim, não seria nada de transcendente o ginecologista perguntar à paciente “sente este tipo de contracção durante o acto sexual?”, ao que ela invariavelmente lhe responderia “SIM, POR FAVOR, AJUDE-ME!!!”. Contra mim falo: casos gravíssimos de vaginismo que me chegam ás mãos nunca chegariam ao patamar de desespero que depois constato e portanto não contribuiriam para mais um carro, mais uma casa, mais uma viagem ; ))))
Porém, o paternalismo presente em grande parte das relações médico-paciente (tão bem denunciado pelo Éme no seu blog Murcon a 29 de Março) não permite a uma dizer o que tem, a outro perguntar o que se passa. Fisiologicamente está bem e portanto ESTÁ BEM!!!
Sou contra esta simplicidade de procedimentos, que depois redunda numa complexidade difícil de desfiar por parte do terapeuta, dado que muitas vezes, constatado o vaginismo a paciente conclui: “mas o meu ginecologista diz que comigo está tudo bem”. Enfim… um verdadeiro drama, a que nem sempre as respostas são fáceis de dar. Se por um lado não queremos chamar mentecapto ao digno colega, por outro queremos que fique inscrito na pessoa a ideia de que o problema terá de ser resolvido antes de se começar a falar de questões emocionais. É que com a cultura de sexualidade de pacotilha vendida nos escaparates de revistas que temos ás pessoas qualquer processo mecânico de terapia sexual parece-lhes um verdadeiro atestado de anormalidade sexual e portanto passível de ser revogado por conselho de terceira pessoa, neste caso, o ginecologista. E entramos neste círculo vicioso, onde o comodismo e os medos da pessoa se unem de forma despudorada para dar origem a interpretações meramente afectivas onde grande parte delas são de ordem da mecânica sexual.
Devemos então acreditar pouco nos ginecologistas, profissionais de facto do sexo? (profissionais do sexo fica mal, demasiado putain ; ))) )
Devemos acreditar nos ginecologistas quando o que eles nos dizem contribui para a sintomatologia sexual :)