quinta-feira, julho 22, 2004

Traição a quanto obrigas ( entre outras obrigações obriga ao amor...)

Written as FREUD


Não sou de forma nenhuma um fundamentalista em questões de afinidades. Acho que é perfeitamente possível alguém estar com alguém porque quer, com outra pessoa porque gosta e com mais alguém porque lhe excita saber que está a trair os dois outros parceiros. Ou seja, dito de outra forma, a infidelidade nos casais não me supreende nem choca. Cada vez mais perpetuada pelas mulheres, não julgo ser ela elemento fulcral dos problemas do casal. É uma espécie de virar de página, em que já não se pode identificar os problemas como passageiros, mas de forma nenhuma é o encerrar do livro das possibilidade da relação. Numa veia aritmaníaca pode-se dizer que a traição é o momento pelo qual a outra parte ( traída) fica com uma vantagem decisiva pra encerrar a relação. Ora esta disposição de forças é aparente, pois “acabar” implica muitas vezes um romper de outras tantas relações desenvolvidas entretanto ( grupo de amigos, famílias, outros casais com quem já não se poderá dar uma socialização tão corrente). O que faz com que esta decisão seja mais fácil num contexto de um casal solitário, enquanto que pra um casal mais entrosado socialmente a separação acarreta outro tipo de dificuldades. Além disso, um casal mais envolvido socialmente tem bastantes dificuldades em manter a traição dentro da esfera do casal e portanto as descompressões constantes com outras pessoas fazem com que o dramatismo acabe por se esvair com mais dinâmica e portanto depois de lavada a dita “roupa suja” que é dilema de qualquer traição ( insatisfação sexual, não-complemento de personalidades, diferença de projectos comuns, não aceitação de diferenças por parte do Outro como forma de procurar um Outro complementar) nestes casais a taxa de sobrevivência é muito maior do que em casais mais isolados, em que a traição é uma ameaça muito maior pois está mais demarcada do normal funcionamento do casal, que vai continuar a passar muito tempo sozinho com tempo pra remoer a relação.
Como terapeuta sou totalmente contra a infidelidade como jogo, em que as pessoas se vão traindo pra “testar” a relação, e aí é quando mais depressa me coloco do lado de uma separação definitiva. Quando alguém é capaz de ludicizar algo tão complexo e difícil de obter como a felicidade do casal então os riscos simplesmente não compensam as possibilidades e então é muito melhor trabalhar numa separação efectiva, até porque nestes casos é quando é mais comum uma reincidência, especialmente no caso da mulher. O homem normalmente prefere que seja o tempo a curar as mágoas da traição, acredita piamente na rotina como forma de resolver diferendos, de manhã voltam a acordar lado a lado, dão um beijo, talvez ele seja mais cuidadoso no sexo e tudo voltará a ser o que era antes. Esta ideia muitas vezes é seguida por mulheres com baixa auto-estima, que acham que introduzindo alguns momentos “picantes” na rotina tudo passará, muitas vezes culpando-se da sua falta de “amor” para que o homem as tivesse traído, e até incapazes de exigirem explicações, pois aí ele irá arrasá-la ( normalmente os homens que lidam com mulheres de baixa auto-estima são verdadeiros push-overs e estão habituados a ir rapidamente a limites numa discussão pois assim é fácil fazer com que a mulher se encolha de novo. Esta questão não é menor, mas pela ocmplexidade que abarca terá de merecer um post pra ela própria. Voltando ao momento propriamente dito, o homem tem uma atitude passiva, a mulher tem uma atitude activa. Procurando na diversificação da relação uma forma de evitar que a relação se extinga ela está quase sempre disposta a reinventar-se, a mudar, mas cada vez mais COM EXIGÊNCIA em relação ao HOMEM. Ou seja, uma mulher normal, uma mulher capaz de se aperceber de que a traição é um acto de vontade, é acima de tudo uma mulher que sabe que se ele teve uma oportunidade e aproveitou-a convém esgotar os seus desejos e claro, melhorar a comunicação de modo a que numa entrega mais completa o homem não encontre motivos prá partida. Mas aqui cria-se o problema de que pra muitos homens o casamento é algo castrativo, é algo que lhes cerceia a capacidade de escolha e como tal acabam por cair em círculos depressivos quando não traem, e aqui o terapeuta deve ser honesto e levar as pessoas a serem honestas consigo próprias. Além de não poder jurar que nunca irá trair, um homem castrado pelo casamento dificilmente poderá sequer iludir-se quanto aos riscos que representa o seu deambular pelo mundo e aí sim só se ele tiver uma fortíssima resposta em relação áquilo que são as exigências da mulher se pode falar em viabilidade do casamento. Ou seja: um homem castrado que apenas se desfaz em promessas e não tem capacidade pra aceitar um itenerário de mudanças na relação ( e aqui há coisas importantes, como o controlo de chamadas por parte da mulher, o controlo do telemóvel, esse monstro que permite hoje em dia todos os tipos sórdidos de casos, ele também por si só merecedor de um post) é um homem com muito pouca capacidade pra mudar verdadeiramente e será mais uma questão de tempo do que propriamente uma questão de necessidade a fazer com que a traição sobrevenha outra vez. O que é aqui importante é percebermos que no homem, num atraição masculina, o poder da mulher tem sido menor, tem havido mais poder de encaixe, e a socialização é determinante prá forma como o casal ultrapassa esta fase da sua relação que pode determinar o seu término. Outro factor importante é a forma como o homem se comportava em relação a possíveis casos da mulher. Homens muito ciumentos que traem têm quase hipóteses nulas de aceitação por parte das mulheres de traições suas, pois elas carregavam sempre com a dúvida dele entregando-se completamente e portanto se eles são capazes de trair mas não exigir então pra elas é inaceitável que eles tomem essas atitudes. Normalmente só casos de coerção física ou profunda fragilidade mental da mulher conseguem ser casos em que o casamento continua após a traição do homem. Felizmente o ciúme é cada vez mais afastado pelas mulheres durante o namoro. Mas são ainda sinais tímidos de mudança, que espero ver ampliados com os anos...

Abraço pra todos e boas reflexões