sábado, junho 04, 2005

Fala-se muito dele mas faz-se cada vez menos... e pior... sim, hoje vamos falar dele... O SEXO ; ))) PURO E DURO... COMO TODOS NÓS GOSTAMOS!!!!!!!!!!!

Written has Freud



“Proposto d’aver despenssaçom pera casarem ambos, eram os jogos e fallas antre’elles tam a meude, mesturados com beijos e abraços e outros desenfadamentos de semelhante preço, que fazia a alguus teer desonesta sospeita de sua virgiindade seer per elel mingoada.”

Não pessoal, lamento, este pedacinho de Fernão Lopes refere-se mesmo a um Rei (D. Fernando) a fazer-se a uma mulher casada (acabou por casar com ela SEM que ela se divorciasse do marido, pois isso não era possível na época). Uma das coisas que o pessoal aqui por estas bandas tem por certo é que nós hoje em dia vivemos tempos de grande liberdade sexual, de grande voracidade por tudo o que é sexual. Ora este texto, comparado com aquilo que (não) se escreve sobre a vida sexual dos líderes portugueses, sejam os da esfera política, sejam os da esfera económica é um verdadeiro comentário pornográfico. Todas as épocas têm em si uma corrente “finalista”, em que determinado momento da história é o “fim” de tudo, o “máximo” ou por outro lado a “máxima desgraça”. Temos essa opinião em relação à liberdade sexual de que desfrutámos na presente época, e no entanto isso é falso, se pensarmos nas mulheres que se passeavam em liteiras por Alexandria e se entregavam aos homens logo dentro delas, das orgias bacantes romanas que eram participadas por toda a população, dos rituais de iniciação sexual nórdicos em que os adolescentes só caiam de fossas cavadas na terra depois de se terem “correspondido” sexualmente, a parte sexual hoje em dia anda pelas ruas da amargura. E nem sequer se pode falar na questão da igualdade, pois as sociedades Romana e Grega eram profundamente matriarcais, inclusive com sacerdotisas, coisas desconhecidas nos tempos da Santa Mãe Igreja ; ))))
Portanto, o nosso tempo em termos de sexualidade não é nada de transcendente nem sequer algo que valha a pena destacar em termos sociais. Daqui a 2000 anos não existirão orgias públicas registadas pelos nossos actuais historiadores, existirão alguns registos pornográficos, mas serão atribuídos a comportamentos “desviantes” (como eu detesto esta palavra), coisa de alguns tarados que alimentaram a 12ª maior industria mundial, anónima nos seus industriais e nos seus actores ou na sua influência. Oh, aposto que ficaram tristes não foi? Anda toda a gente a pensar em fazer, como o fazer, a quem dizer que fez, quem criticar por ter feito com quem e depois vem este chato lembrar que a malta anda a montar pouco os rapazes e que aqui o pessoal tem dado pouco em cima das femmes?
Mas pareço não ser a primeira pessoa a reflectir sobre isto. H. C. Fultton apresentou em Madrid uma dissertação bastante interessante sobre uma evolução na sexualidade que vai muito de encontro a esta minha teoria. Segundo ele, todos os indicadores mostram que as pessoas cada vez fazem menos sexo, e menos sexo do que se compararmos com outras épocas da história. E mais: pior sexo!!! A quantidade de mulheres que fazem sexo simplesmente até à exaustão tem descido dramaticamente. O orgasmo feminino fazia parte da sacralização da concepção feminina e até ao Advento da nossa Santa Mãe Igreja considerava-se que o orgasmo potenciava o potencial de gravidez da mulher (o que aliás, está cientificamente certo, como podem ler no emedicine fazendo a busca orgasm, pregnancy). Aliás, considerava-se que a mulher, tal com o homem, libertava apenas no seu êxtase o seu líquido fertilizante, e portanto a preocupação com a qualidade sexual era muito mais elevada do que é hoje em dia. As conclusões de Fultton só podem admirar a quem não tenha um consultório de sexualidade aberto (que são a larguíssima das pessoas, e ainda bem porque como todos os que estão do lado de dentro de uma profissão, já estou aqui a esbracejar contra os que me querem tirar o lugar ; )))))))))))) ). Não há mais atroz do que a assustadora frequência com que mulheres saudáveis, jovens e atraentes nos entram porta adentro (tal como o Prof. Júlio Machado Vaz, justifico-me dizendo que sou do Porto) com o tal pequeno segredo de polichinelo: nunca tiveram um orgasmo na vida, não acham isso nada importante no presente e não pensam que isso vá condicionar a vida delas no futuro. Claro que nós, psis, torcemos o nariz, franzimos o sobrolho e dizemos “mmm” “mmm” e já está… simples… que mais dizer?
Temos o problema da contextualização do afecto. As mulheres portuguesas jovens ainda são, em grande maioria fãs do sexo pleno de amor. Procuram melhor sexo mas regra geral encontram amantes que seguem o mesmo trajecto inexorável: depois de umas primeiras boas quecas a coisa entra numa modorra mais ou menos previsível. E mesmo este “ser bom na cama” muito pouco tem a ver com prazer para a mulher, normalmente quer apenas dizer, em termos brutos, um tipo que aguenta mais em tempo. Chegámos ao absurdo de ouvir dizer que os melhores amantes que estas jovens tiveram eram senhores de 50 anos, que as satisfaziam em longuíssimas maratonas de 3 e 4 horas ou, como tantas gostam de arredondar “toda a tarde” “toda a noite”. Claro que há o pequeno detalhe de o membro masculino não aguentar erecções contínuas de mais de 5 horas, o que faria de TODOS estes homens machos de uma potência colossal e Portugal (ou qualquer país onde estas estórias fossem levadas a sério) o país com menor consumo de Viagra por habitante ; ))))))
Mas como tal não acontece, estas laudas ao macho latino normalmente são tão ocas como outras quaisquer que possam ser feitas. Nunca até hoje, e julgo ser já a segunda vez que digo isto, apareceu em consultórios lusos uma paciente a queixar-se de uma vida sexual hiper-satisfatória, tão boa que ela nos pedisse a fórmula secreta para desligar a fornalha que existisse nela. Mas em compensação aparecem-nos dezenas de mulheres com muitos parceiros e uma vida sexual aparentemente satisfatória em que a actividade sexual muitas vezes disfarça uma pobreza de satisfação no mínimo, e olhem que eu não sou de usar eufemismos nestas coisas, confrangedoras. Assim, muitas das vezes, começamos com a paciente este diálogo de surdos em que se procura fazer com que a pessoa em causa tenha todo o á-vontade para nos descrever a sua vida sexual, o que ela fará até ao ponto em que perceber que afinal o “sacana” do terapeuta está apenas a fazer um quadro apocalíptico de todos aqueles sentimentos que a jovem tão docemente guarda em si.
Daí que seja importante, até o inventário sexual estar completamente arrumado, que nós nos mantenhamos tão neutros. E mesmo depois temos de ir devagar, porque senão acabámos numa daquelas discussões de café em que dizemos que “a minha queca foi melhor que a tua”, que embora com algumas pacientes comprovadamente resulte, com a maior parte delas não faz mais do que deixar uns elementos traumáticos soltos e uma profunda falta de receptividade em relação à parte que supostamente vem a seguir à relativização (é essa parte que se segue ao inventário), que é a procura de percursos terapêuticos para uma melhoria de vida.
Nos tempos de hoje (vulgo presente) achamos que o sexo que temos é muito bom baseado em valores não absolutos. Eu, por exemplo, sou um rapaz muito absoluto. Não estando num acto sexual ao ar livre, que está sempre limitado por problemas de espaço ou de passagem de outras pessoas, para mim o sexo acaba em uma das seguintes situações: se a mulher só consegue ter um orgasmo (15% das mulheres são assim) então teve-o, se a mulher é multi-orgasmica então teve-os continuamente até ficar totalmente em êxtase, exausta, desmaiada, incapaz de controlar a respiração, e portanto, totalmente satisfeita. e esta é uma medida universal tão a ver???
Mas não se pode dizer isto a uma paciente, o mais certo era ela explodir em lágrimas face a tudo o que tinha perdido até entrar no consultório ou então tentar recuperar o “tempo perdido” (ou neste caso, as quecas perdidas ; )))) ) com o terapeuta e nenhuma destas situações é desejável, pelo menos para mim que já tenho uma vida sexual completa e complexa qb ; )))))))
Sendo assim, é preciso desmistificar que todas as outras mulheres estejam a ter uma vida sexual louca e plena e elas sejam as únicas desgraçadas. Este é um passo fundamental, basilar, essencial e tudo o que se consigam lembrar quando querem referir algo importante. A mulher tem de perceber que o que está a acontecer está a acontecer com a esmagadora maioria das mulheres portuguesas, só que a maioria não está disposta a fazer nada em relação a isso, e desde logo apreciar a sua coragem. Depois é preciso reverter o ónus da prova, ou seja, fazer a tal outra terrível pergunta, a tal que normalmente faz desabar a tal avalanche de lágrimas: “pensando em geral em todos os seus actos sexuais até hoje, que percentagem é que acabou com o seu orgasmo?” Meus amigos, a resposta até hoje, a resposta sincera e não a resposta rendilhada e asséptica/simpática, foi sempre “quase nenhum”. E isto muitas vezes depois de termos ouvido, com a mão no peito e olhos no céu jurando como quem está no tribunal, que a sexualidade sempre foi vivida por prazer, com grande desejo mútuo, etc etc etc, conjecturas que só fazem sentido para as tais histórias que nos contam no início das terapias e não para estas histórias que já são de segunda sessão ; )))))))))))))))))))))))
Resumindo: minhas queridas. O sexo não é bom por vocês decretarem que é. Só o sexo bom é que vai ficar verdadeiramente marcado no cérebro, e se aos 40 derem por vós completamente indiferentes em relação ao sexo então está mais que percebido que estas linhas não vos marcaram minimamente, o que até é bom, porque assim não me podem responsabilizar ; )))))))))))))))
E pronto, cá estão, passo a passo, como na Rua Sésamo, as técnicas de engagement mais utilizados por nós na abordagem à sexualidade de uma paciente. Para saber mais já sabem, apareçam no consultório ou na piscina looooooooooooooooooooo

Abraço para todos

; )