Do porquê do chulo ser uma personagem tão obscura na nossa sociedade...
O chulo pensa, a puta executa. Poderia ser esta a perspectiva deíficadora da nossa actividade. Mas de facto chulo e Dama são apenas compinchas de viagem, o depósito de combustível é abastecido pelo cliente e o carro rola rapidamente, sempre demasiado depressa pra que alguém se preocupe com dados moralistas. Digo isto dois dias depois de ter ido assistir ao casamento de uma das minhas meninas. Foi uma cerimónia pomposa, nada ao meu estilo simples e retirado. O noivo, o filho de um rico empreiteiro das obras públicas do país vizinho que ela conheceu quando acompanhava outro empreiteiro espanhol a Monte Carlo, estava radiante e enérgico, as duas famílias felizes por tão asombroso desenlace, que se deu após 4 meses de namoro. Como disse, andámos demasiado depressa pra nos preocuparmos com a moralidade, e muito menos com as convenções sociais. De certa forma o dinheiro dá à Princesa uma certa inimputabilidade que faz com que certas zonas do cérebro dela se mantenham numa inocência velada enquanto tudo o resto é possuído pelos clientes. Sou pouco dado a psicologias, mas posso dizer que em certos aspectos a puta é uma criança que se alimenta de dinheiro, da “bondade” de uns senhores que muitas vezes pagam 250E por uma simples conversa e que, outras vezes mais caprichosos, brincam com ela, com o seu corpo, mas nunca com o seu espírito, esse mantém-se inocente e puro. Quando este espírito se cruza com o de um homem que tem a mesma relação de desprendimento com o dinheiro temos aquilo que se chama uma “afinidade”: a mulher encontrou alguém que lhe vai alimentar essa necessidade de receber, ele vai encontrar uma mulher que lhe vai dar tudo, mas tudo mesmo. Daí que saí muito feliz da boda, não indo ao copo-de-água pois havia muito a tratar em Espanha. De facto, numa ofensiva nunca vista, as autoridade madrilenas estão a fazer a vida negra a todos os bordeis espanhóis e a questão levou ao Ayuntamento, que é uma reunião de vários chulos que se realiza neste momentos de viragem. Os polícias não estavam todos bem pagos? Não eram felizes? Então porquê esta agressividade? Porquê este ataque sem sentido? A resposta é simples e dolorosa de confessar pra um país civilizado: a Moralidade! Vários jornais da capital fizeram uma campanha mostrando as vidas de meia-dúzia de prostitutas de rua, em toda a sua podridão e decadência e vai daí as autoridade fazem rusgas a quem? Não ás putas de rua, essas não dão nem pra passar no noticiário com uma pequena peça cheia de caras disfarçadas, atiram-se aos bordeis de luxo respeitáveis, avisando qualquer potencial cliente que seja político ou magistrado primeiro, e depois entram por ali, partem tudo, fazem a rusga, prendem meninas, o responsável da noite, por vezes o próprio chulo... enfim. Quem diria que Espanha é um país tão atrasado? Claro que as Callgirls regra geral escapam a estas calamidades, e isto resulta das estruturas muito mais leves e móveis em que estas se apoiam. Mas claro, ter uma casa aberta num dado local potencia os clientes, especialmente os de classe média, sem preço pra acrescentar aos serviços da puta o preço astronómico de um hotel de 4 ou 5 estrelas. Mas o bordel está extremamente exposto, e o que aconteceu em Madrid não é diferente do que acontece um pouco por todo o mundo sempre que os media metem o bedelho. Tive um jornalista no meu meio que convenceu dois irmãos a deixarem-no participar nas sua actividades pra dar uma “outra” imagem da prostituição. Eles aceitaram na sua soberba e claro... foram punidos. A peça final retratava-os quase só como mercadores de carne e nada como profissionais empreendedores e dedicados ás suas meninas. Claro que o jornalista foi espancado e cortado na cara ( sinal mundial que nós chulos usámos pra mostrar que certa pessoa pra nós está como morta e que substitui o assassinato dessa pessoa) mas o mal já estava feito e 3 desses hoteis durante MESES não aceitaram a entrada de meninas desses chulos nos seus quartos. Ou seja, chulo e media são duas actividades que não colam, definitivamente. O chulo, sempre dedicado, tem aquela inocência de quem está a fazer um serviço público, e o jornalista tem aquela dedicação ao emprego que lhe diz que quanto mais sexo e degradação humana meter numa reportagem mais eudiência vai ter, e sendo assim aquilo que pró chulo é profissionalismo pró jornalista é imoralidade camuflada, aquilo que pró chulo é amor à profissão pró jornalista é auto-promoção do seu trabalho “real”. Sim... porque haverá algo menos real do que o jornalismo hoje em dia?