sábado, janeiro 08, 2005

O cupido não mora aqui...

O grande problema desta profissão é a que ao fim de alguns anos o nosso grupo de pessoas conhecidas é mais ou menos igual ao das pessoas com quem trabalhámos. É complicado admitir mas é verdade que num negócio em que as nossas colaboradoras vão prá cama com outros homens é muito difícil ir prá cama com alguém de fora deste trabalho. Ou seja, não se vai prá cama com as nosssa colaboradoras, mas há tantas de outros, e até temos desconto ; )
Ou seja, não será pra breve que vou dar a grande alegria aos meus pais de me casar. É muito complexo, dado que o nosso trabalho é uma coisa de 24/7, que obriga a grandes viagens, algumas delas longas, dado que é preciso angariar constantemente vaquedo e arrebanhar meninas prá causa é muito complicado pelo meio disto tudo “nutrir” uma relação.
O mesmo não se passa com as nossas meninas. Assim de repente, lembro-me que mais de metade das minhas meninas têm actualmente um namorado que não tem nada a ver com este mundo em que me movimento, e conseguem tar com eles 3 vezes por semana. Ora isto connosco seria impossível. O telemóvel parece estar avariado, de tantas vezes que toca, é preciso estar constantemente em deslocação, acompanhar a tempo inteiro as meninas mais novas, é preciso organizar os cabeleleiros delas, as idas a lojas pra obtenção de descontos, é preciso falar directamente com os gerentes do hotel, e isto obriga a constantes deslocações entre Porto e Lisboa, obriga a estar 2 a 3 dias por semana na Madeira. No Verão obriga a distribuir a semana pelos casinos onde temos meninas a trabalhar, o que no meu caso obriga a ir a MonteCarlo, aos Casinos flutuantes na Baleares, a ir mais vezes À Madeira, ao Algarve... enfim... como explicar isto a uma mulher numa perspectiva de ter uma relação com ela? É um cadito complicado não vos parece? Mas já tentei, acreditem. Aliás, quando me iniciei no putedo estava numa relação de 2 anos e ainda a arrastei por quase 3 meses. Mas como lidar com o sexo-menos-que-perfeito quando temos, entre outra funções profissionais, de mostrar ás meninas como lidar com todas as formas de tornarem o sexo perfeito? Enfim... torna-se muito complicado, especialmente quando a namorada começa a ver o nosso telemóvel tomar vida própria e estar sempre a piscar, sempre com vozes femininas do outro lado, e ainda por cima connosco a dizer “ Eu já vou...”
Apesar de este lado prático da nossa profissão nos afastar muito da normalidade familiar tão apreciada nas classes altas é extremamente recompensador pois nada como estar constantemente a lidar com a podridão humana pra apreciar o lado lindo da personalidade destas pessoas que anexaram a sua felicidade à felicidade alheia. Por isso sou implacável pra com clientes que são violentos com as minhas meninas. Se elas na sua tremenda generosidade são tão dadas, tão apaixonadas, como é que eles lhe podem retribuir com violência? Parece-me inaceitável e de facto é. Uma prostituta da minha prole normalmente está a caminho não de se tornar decadente mas sim de se tornar médica, engenheira, profissional da área das relações públicas, de ser proprietária de um bar ou de uma discoteca de sucesso. E é por isso que não podem ser tratadas como aquelas meninas que se desfazem em dinheiro pra se tornarem numa brasa fria a e anónima prestes a ser largada das mãos do chulo.
Mas acreditem que tento amar, tento amar de uma forma platónica, tento amar com o meu bom conselho, com a minha palavra sempre bem disposta, mesmo quando os clientes foram muitos e nem todos correram mal. Tento sendo o companheiro ao lado de quem se pode adormecer e ao lado de quem é um prazer acordar, o homem que não engana a mulher, que não engana a namorada, que não engana ninguém porque todos os outros fazem-nos por nós. E é neste tentar que mostro a minha humanidade, que quero seja o mais intensa possível. Um chulo não tem tempos livres pra matar: quando todas as outras pessoas estão a disfrutar o delas estámos nós mais ocupados que nunca. Entre o conhecer possíveis meninas e o encaminhar as nossas meninas prós hotéis, entre falar com os nossos irmãos na fé e descobrir como anda o mercado, entre depositar o dinheiro off shore e gerir esse dinheiro, entre ensinar uma nova menina e preparar pra ir levantar ao estrangeiros os fundos geridos de outra ( sou o gestor financeiro de quase todas as minhas meninas, com lucros elevados pra elas, diga-se de passagem) como é que se pode apelidar, ainda que ligeiramente, a nossa vida de normal? Como é que nos podemos entregar a uma rotina? Como é que se pode fazer do nosso dia a dia um momento com algum sentido pra uma mulher que pretenda ter uma relação? É impossível, não conseguimos. Basta pensar nos km que temos de fazer pra transportar as meninas, basta pensar no trabalho que temos em conversar horas e horas na internet a convencer mais jovens adolescentes a juntarem-se a nós ( mesmo que a longo prazo, ao nosso exército.