sexta-feira, fevereiro 11, 2005

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2005 Annus Putis

Written has PIMPO


Este ano prepara-se para ser um grande ano. Nunca tive tantas miúdas de 17 aos saltinhos de expectativa de fazerem 18 para entrarem prás minhas hostes, e isto é sinal que o ano correrá sem problemas. O meu negócio, o putedo de luxo ou a “gestão comercial de expectativas de intimidade”, como acho mais correcto chamar-lhe, não é sensível a questões como crises sociais. Ainda há poucas semanas estava a visitar aquele que foi o maior chulo em Portugal nos últimos 25 anos, o famoso “Ferreirinha”, e ele contou-me que o período conturbado (para outras actividades) do pós-revolução de Abril foi de facto um manancial de oportunidades prá nossa actividade. Muitas revolucionárias de esquerda, vindas da província em protesto contra a ditadura, ou contra a democracia, apanharam-se nas grande cidades sem qualquer tipo de rendimento e foram pessoas como nós que fizemos delas as primeiras “putas da liberdade”, pois como esse grande símbolo do 25 de Abril, a Menina Luísa, disse, “não fodemos, damos prazer”. Aliás, olhando pró nosso panorama actual e pela forma como a prostituição era encarada pelo Antigo Regime sinto-me triste. Andando disfarçadamente pelos lobbies de hotéis, como que nos desculpando à sociedade pela nossa existência, sem qualquer contrato com as nossas afilhadas que nos garanta homogeneidade no comportamento delas, sem qualquer seguro, sem poder fazer parte do sistema de crédito bancário como forma de financiar as nossas actividades… isto só para referir questões básicas de dignidade profissional. Aliás, ás vezes penso que é esta marginalização em que vivemos que leva muitos irmãos (caso recente do Pontas, em Viana do Castelo) nossos a meterem-se em negócios cada vez mais obscuros, desde drogas a armas. Eu compreendo-os. “Se o mundo nos vira as costas, então temos é de o foder no cú”, frase sábia de um conviva num restaurante recentemente em Lisboa. Se o mundo nada nos dá, se somos constantemente acossados pela polícia sem nenhum motivo bastante pra isso, se temos de lutar com unhas e dentes numa sociedade cada vez mais hipócrita, que diz que qualquer pessoa pode ganhar o seu pão, desde que o ganhe como a sociedade gosta, então porque não descer à clandestinidade mais profunda?
Minhas amigas e amigos, é precisamente por vivermos nesta sociedade animalizante e antagonista dos nossos interesses que é necessário recorrermos ao nosso mais que residual optimismo, à nossa virtude de estarmos a facultar um serviço necessário, urgente e eficaz. Como disse, no Antigo Regime o chulo era respeitado. O facto de ele aceitar viver com um código simplificado da moral, permitindo que outros se mantivessem nos eixos da sociedade era visto como um sacrifício que era recompensado com uma deferência muito especial. O chulo era um comerciante apreciado, respeitado, sempre disponível, fazia parte da câmara do Comércio, pagava impostos, tinha uma casa conhecida, controlada pelo Estado a nível de saúde e higiene, as bebidas servidas na sua casa pagavam bebidas. Como sabemos, todas as tentativas subsequentes ao 25 de Abril para criar casas deste tipo de forma mais ou menos aberta redundaram na prisão de muitos de nós, mesmo que poucos anos tenham cumprido de pena, a prisão pró chulo é sempre aquela suprema injustiça que o faz descambar. Se antes já era um pouco agressivo com as suas meninas, vai ser mais, se antes já “molhava o bico” em negócios ilícitos, a sua passagem pela prisão vai dar-lhe mais apetite por esses riscos. Enfim…
Mas voltemos a 2005. 15 novas meninas em expectativa, com 17 anos… todas no 12º ano, todas à espera do dia em que se tornarão parte da minha instituição. Todas minhas “amigas”, todas filhas de classes altas, todas experimentadas nas artes do sexo, todas gulosas por fazer bom dinheiro. E o chulo está aqui pra isso mesmo. Pimpo is the name, pimping is my game. Muitas meninas minhas saíram, principalmente para Vegas e pra Inglaterra. Sou sincero, não é com pena que as vejo partir. A puta de luxo, ou acompanhante, ou escort, vai-se tornando mais e mais exigente, vai querendo mais e mais, especialmente quando tem um mau cliente e é o chulo que lhe vai pagar os “danos morais” dando-lhe mais atenção, pagando-lhe mais serviços no SPA, mais horas de cabeleireiro… enfim… ser chulo é como ser pai: ás vezes vamos com elas prá cama mas no fundo no fundo é tudo uma questão de amor. Assim, ver uma princesa partir pra um destino no estrangeiro é sempre uma alegria, pois de certeza que a menina que vem aí não irá fazer tantas exigências, e já temos mais experiência, já saberemos como cuidar melhor dela, e assim, nesta forma redundante de eliminação de erros, o chulo vai-se tornando melhor chulo com novas putas novas, assim como a puta se vai tornando melhor puta encarando e lidando com chulos diferentes. Uma nova fornada implica um período de adaptação sexual, em que começamos a deixar de fazer sexo como amantes delas e passámos a ter comportamentos sexuais próprios dos clientes, de forma que elas percebam o que vão ter pela frente (e por trás… e na boca já agora). E com a experiência de meninas passadas, o chulo prepara a puta do futuro com novas capacidades, novas inspirações, mudando a puta, mudando o chulo, num processo cíclico. Por isso é que é muito importante falar com as nossas meninas no fim do dia. Saber ao máximo o que se passou com o cliente. Elas gostarão de satisfazer a nossa curiosidade, sentir-se-ão apreciadas pela nossa preocupação, e nós poderemos perceber um pouco mais daquilo que acontece no quarto. Se o cliente a obrigou a engolir esperma, como é que ela reagiu, se esses clientes têm um “tipo” próprio, se existe alguma posição que tranquilize melhor os ejaculadores precoce pra o desempenho deles ser melhor, ou uma posição que os faça vir mais depressa quando o trabalho é muito. E claro, os clientes, especialmente os mais regulares, são exigentes em questões de “carne fresca”. O excesso de intimidade inibe-os muitas vezes de se satisfazerem sexualmente com as meninas, e portanto o ideal é que haja uma certa rotatividade nas meninas pra que eles se sintam sempre presos à fantasia da “femme fatale”. Aqueles que acabam por se tornar amantes das meninas acabam por recorrer aos meus serviços porque foder com uma mulher sem a “posse” directa do dinheiro não tem piada e portanto preciso de mais meninas também pra compensar os excessos de intimidade.
Um ano novo é como uma mulher: está ali de pernas abertas pra nós, só o temos de montar.