sábado, janeiro 22, 2005

Sou um terapeuta, não um mercador de feridas

Written has Freud


Sou um terapeuta, e como tal assumo as minhas responsabilidades como parte de uma classe: ou seja, somos em grande parte coniventes com muitos dos problemas dos casais que não os consultam. Temos como certo que as “ coisas vão acabar bem”, tenho de o dizer. Uma espécie de optimismo cerrado no nosso sistema intelectual, algo de passivo/agressivo em relação à pobreza emocional que representa os casais que nos consultam. E eu sou só mais um desta corrente positiva. E estou aqui a confessar-vos isto mesmo. Estou a confessar porque começam-me a aparecer muitas casais que entraram em contacto com o meu mundo através deste blogue.
Este blogue não foi pensado como uma forma de auto-publicidade. É anónimo e não é referenciado mais do que a minha formação americana. Mas parece que várias pessoas, por meios que ainda não me foram descortinados, conseguem identificar o terapeuta em causa e nas sessões dizem-me “ nós vimos o seu site, e achámos que talvez você nos pudesse ajudar”. Sendo assim, tal como o problema do casal é uma Quimera, eu pareço ser um Belerofonte, que existe e que trás à evidência os problemas que pareciam passar despercebidos, e considero essa uma das virtudes potenciais deste site ( como é um work in progress, o balanço será feito num hipotético final), o facto de pela leitura deste blogue as pessoas se aperceberem que de facto não estão a viver um momento particularmente positivo das suas vidas mas sim remedeios mais ou menos indisciplinados, obedecendo a elementos mais ou menos transcendentes, em que as pessoas não fazem as coisas especificamente per se mas em grande medida porque a sociedade mais ou menos organizada de pais e família ( e família avulsas) impõe a sua reprodutividade. E esta percepção, este conhecimento, deixa-me surpreso, ao ver as pessoas a atacarem estes gigantescos moinhos de vento que se elevam no horizonte, que são os seus medos, que são os medos de todos, que são as equações do fantasma na máquina, que são os elementos conjuntivos de uma atitude empírica que pouco tem a ver com amor ou atracção, mesmo que apregoados os seus radicais nestas duas fontes de entrelaçamento humano. E por isso fico feliz com este site. Este site tem funcionado, e não só trazendo pacientes ao meu consultório, tem levado casais a porém muits coisas em causa antes que esses elemento sejam uma fraqueza irremediável, e enquanto ainda se consegue comunicar de uma forma mais ou menos assertiva.
Tento ter presente as minhas emoções e sentimentos, tento trazer a este espaço um pouco da minha dor e das minhas dúvidas, que são muitas, que aumentam com cada casal que passa, certo que passando mais uma leva de água neste moinho o moinho est´amais incerto de aproveitar da água da próxima enxurrada a energia pra moer todas essas grandes complicações que parecem emergir do nada na vida dos casais quando resultam apenas de um conhecimento tardio um do outro, um conhecimento que parece surgir por pressão e não por um verdadeiro de desejo de conhecer a pessoa com quem se partilha o espaço.
Fica o meu grande agredecimento a todos os que me enviaram mails, a todos os que comentaram, e a minha promessa que não vou deixar este site acabar, não o vou deixar ter um fim, vou continuar a tentar ajudar, uma ajuda desinteressada e dinâmica tão dinâica como o HTML pode ser. É uma tentativa que estou a fazer, e agradeco-vos estarem a tentar juntos comigo.
Temos de ser primários: seriam precisos milhões de sites destes pra melhorar num nível geral a qualidade de vida em casal em Portugal. E mesmo em muitos casais, o dinamismo é tão baixo que nem se chega À fase de pensar em falar sobre os problemas, consomem-se em discussões e conseguem assim a motivação negativa bastante pra clipar as pessoas como “maus momentos” e assim seguir de forma solitária as suas vidas. Temos presente o seguinte: amar não basta, e muitas vezes o que se diz ser amor não é nada disso, muitas vezes o que dizem ser amor não é nada mais do que uma estrutura de protecção face à realidade, uma protecção anti-vácuo que os casais encontram face à necessidade de lidar com filhos e assim canonizar a estrutura em forma de procurar uma estabilidade que se quer asseguradora de rendimentos emocionais futuros, mesmo que não sejam os rendimentos reais do amor. Muitas vezes as pessoas aceitam de forma alucinantemente fácil as diferenças de noção sobre a relação que ambos têm. Ou seja, aceitando a diferença, cada um, e em especial as mulheres, procuram manter um certo conjunto de elementos de concluio emocional, e mais do que algo expresso e sentido esse amor começa a ser algo de “secreto”, algo que não tem expressão concreta, está lá, sente-se, é real, mas é silencioso, e portanto... portanto não exagerem nas minhas qualidades presumidas... sou mais um mercador de feridas...